Joaquim Gil Pinheiro, o Comendador do Alcaide
Origens
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Joaquim Gil Pinheiro [3] |
Joaquim Gil Pinheiro nasceu na aldeia do Alcaide, freguesia do Fundão, distrito de Castelo Branco, Portugal, a 24 de Janeiro de 1855.
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Assento paroquial do batismo de Joaquim Gil Pinheiro, 1855, Alcaide, folha 30v do livro Assentos de Batismos do Alcaide de 1851-1859. |
Filho legítimo do 2º matrimónio de Domingos Gil Pinheiro, natural do Alcaide, e do 1º matrimónio de Maria Eugénia (da Silva Lino), natural da vila do Fundão, do Bispado da Guarda. Neto, via paterna, de Francisco Gil e de Rosa Pinheira (assento de óbito Nº14 de 1864, Alcaide), ambos do Alcaide, e via materna de António da Silva Lino e de Teresa de Jesus, ambos naturais do Fundão. Foi batizado em casa pelo prior Luís António Leal, por estar em perigo de vida, a 3 de Fevereiro de 1855, mas teve os Santos Óleos e mais cerimónias na Igreja de S. Pedro, do Alcaide, no dia 25 de Fevereiro de 1855, na presença das testemunhas Januário António Dias, do Alcaide, e Caetano da Silva Lino, tio do batizado, do Fundão.
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Fotografia de Caetano da Silva Lino, tio de Joaquim Gil Pinheiro [7] | Dedicatória de Joaquim Gil Pinheiro ao primo César da Silva Lino, no verso de fotografia [7] |
Joaquim Gil Pinheiro, aos 18 anos, era escrivão do Juíz Eleito da freguesia da Orca [16], profissão que abandonou devido a doença dos pais, para tomar conta de uma loja de comércio que os pais possuíam no Alcaide, conjuntamente com o seu irmão António de 16 anos. António nasceu a 22 de Abril de 1857, no Alcaide, cujo assento paroquial de batismo se encontra na folha 51 do mesmo livro em que se registou Joaquim, e teve como padrinhos o seu tio António Justiniano da Silva e sua mulher Sebastiana da Silva Preguiça, ambos do Fundão.
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Joaquim Gil Pinheiro, imagem do livro Roteiro de Lisboa |
Ida para o Brasil e a Casa Comercial
Emigrou para o Brasil, a bordo do Mimosa, chegando ao Rio de Janeiro a 3 de Junho de 1878 (fonte: o seu livro Primícias) e partindo para São Paulo a 21 do mesmo mês e ano, ficando hospedado com um conhecido e parente, e passando a trabalhar para o mesmo numa fábrica de velas de cera, em Santa Cecília, onde aprendeu o ofício "em poucos dias aprendi a fabricar toda a classe de velas de cera, sem que anteriormente as tivesse visto fazer". Após poucos meses de permanência, retirou-se da hospedagem/trabalho na fábrica, por divergências pessoais, mudando-se para São Bernardo (actual São Bernardo do Campo), onde se dedicou à cultura de abelhas durante 1 ano e meio.
Fundou em 1881, no Largo do Riachuelo, nº 24, a sua casa comercial "Casa Vermelha do Riachuelo", anexo a uma fábrica de velas de cera. O Largo do Riachuelo, foi anteriormente conhecido por Largo do Bexiga e actualmente é a Praça das Bandeiras.
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Mapa de São Paulo em 1890, Largo do Riachuelo, no cruzamento da Rua de Santo Amaro, com a Rua de Santo António e Rua do Riachuelo. |
Surge no Almanaque da Província de São Paulo, de 1882 para o ano de 1883, e de 1883 para o ano de 1884, com a sua casa de comércio na Rua de Santo Amaro, São Paulo, e no Almanaque da Provícia de São Paulo, de 1886, com a sua casa no Largo do Riachuelo, nº 24 (o Almanaque da Província de São Paulo de 1887 cataloga esta casa nº 24 como uma Fábrica de Velas de Cera.). O Correio Paulistano, de 10 de Setembro de 1886, publica o lançamento do imposto predial para o exercício de 1886 a 1887.
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Lançamento do Imposto Predial de 1886-1887, onde se inclui a casa de Joaquim Gil Pinheiro, no nº 24 do Largo do Riachuelo, Freguesia da Consolação. |
Veio a ser acusado de furto, por albergar um trabalhador de outrém, em 1884 mas foi absolvido de tais acusações, conforme reporta o Correio Paulistano de 23 de Outubro de 1884, sobre a sessão de tribunal ocorrida dia 21 do mesmo mês e ano.
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Joaquim Gil Pinheiro, imagem do livro Primícias |
Liquidou a sua casa comercial em 1891, por dificuldades em encontrar pessoal que o auxiliasse, dedicando-se a seguir à construção das suas casas na capital, sem que tivesse aprendido a técnica, os materiais nem o pessoal, o que não obstou a que ele mesmo dirigisse e calculasse a construção da maior parte das casas que possuia, das quais tirava a renda necessária para a sua subsistência.
Foi também em 1891 que foi multado devido a ter materiais inflamáveis na cidade superiores ao permitido por lei [21].
Foi desta forma, que no Brasil, angariou notável fortuna, como apicultor e fabricante de velas, construtor e proprietário, passando a viver confortavelmente com o retorno das rendas das suas casas.
No SIAN (Dossier BR RJANRIO A9.0.PNE.33290), encontra-se o Processo de Naturalização de Joaquim Gil Pinheiro, datado de 1914, nº de processo J.19.1914, sendo a origem dos dados a Planilha IJJ6 e Processo, cuja notação anterior era a 861. Desconheço se este processo de naturalização foi aceite e se naturalizou como brasileiro ou não. Deste processo consta que o seu estado civil era solteiro e proprietário como profissão.
Sabe-se que se deslocou várias vezes a Portugal, havendo no Arquivo Distrital do Porto, o registo da emissão de um dos seus passaportes, a 13 de Janeiro de 1894 (imagem 85)
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Emissão de passaporte a Joaquim Gil Pinheiro. |
Em M'Boy
Viveu em São Paulo, no Bairro da Liberdade, e em 1902 fixa residência em M'Boy, ou Embu como diziam os moradores, (actual Embu das Artes no Estado de São Paulo), mandando construir um chalet na Rua de Baixo, voltando-se para uma vida mais sossegada. Por curiosidade, na língua tupi, mboy significa cobra.
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Joaquim Gil Pinheiro, em frente do seu chalet em Embu das Artes, no
seu carro Ford modelo T, e com o seu motorista Manuel Ennes Baganha
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Joaquim Gil Pinheiro com a sua máquina fotográfica, em M'Boy. Foto do livro "As memórias de MBoy" |
Os Livros
Em MBoy dedicou-se ainda ao registo da história do local, em texto e fotografia, incluindo as tradições do povo roceiro da região, lendas e músicas e um retrato de toda a cultura caipira, vindo a publicar o livro "Memorias de MBoy: Configuração, Ethnographia e Origem do Logar", apresentada ao 2º Congresso Brasileiro de Geografia, São Paulo, Agosto de 1910, 1ª Edição, contando com uma 2ª edição ampliada e ilustrada"Os Costumes da Roça ou as Memorias de MBoy, Etnographicas, Historicas e Etymologicas", Empreza Graphica Moderna, São Paulo, 1912, com esperança de que se tornasse útil para os historiadores (o que acabou por se tornar uma realidade).
São assim da sua autoria os livros:
- "Primícias, Poema dos Principais factos da História do Brasil até à sua Independência", 1900, São Paulo (Disponível em pdf no arquivo de https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/5147 ),
- "Roteiro de Lisboa – Histórico, Hidrográfico, Corográfico, Arqueológico e Estatístico", 1905, São Paulo, Brasil,
- "Memorias de MBoy: Configuração, Ethnographia e Origem do Logar", 1ª edição, São Paulo, Agosto de 1910
- "Os Costumes da Roça ou as Memorias de MBoy, Etnographicas, Historicas e Etymologicas", 2ª edição. Empreza Graphica Moderna, São Paulo, 1912
- "Os Dois Carecas", comédia em 3 actos
- "Maricas", cena cómica, em 1 acto, de costumes portugueses
- "Efemérides de Minha Vida"
- "Biografia e Memórias da Minha Terra"
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Capa do livro "Primícias" | Capa interior do livro "Primícias" |
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Capa do livro "Os Costumes da Roça ou as Memórias de MBoy", 2ª edição |
O nosso Comendador gostava de escrever poemas/versos, de tal forma que várias publicações o mencionam mordazmente, comparando a sua escrita à escrita de Camões, porque o próprio fez menção a Camões no prefácio do seu livro "Primícias".
Um anúncio de 12 de Março de 1922, no jornal Correio Paulistano, noticia-se a venda das obras de Gil Pinheiro, as acima indicadas.
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Anúncio de venda das obras literárias de Gil Pinheiro |
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Outras obras de Gil Pinheiro, apresentadas como prova em tribunal, na página 21 do Diário Oficial do Estado de São Paulo, Nº 70 ano 42º, em 30 de Março de 1932. |
Na publicação A Nação, de 17 de Janeiro de 1899, ou seja, com data anterior à publicação do livro Primícias, o livro em poema sobre a História do Brasil, destaca-se a seguinte quadra de Gil Pinheiro:
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Artigo d'A Nação, de 17 de Janeiro de 1899 |
No semanário ilustrado "O Pirralho" nº 53, de 10 de Agosto de 1912 é possível ler uma entrevista (que certamente será uma sátira), a Gil Pinheiro.
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Entrevista a Gil Pinheiro, n'O Pirralho, nº 53, de 10 Agosto de 1912 [15] |
Na publicação A Vida Moderna (SP) nº 341, de 13 de Agosto de 1918, é publicado um artigo sobre Humoristas, onde incluem Gil Pinheiro e um excerto de Primícias.
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Excerto de A Vida Moderna, de 1918. |
Benemérito
Como benemérito, auxiliou diversas instituições brasileiras, especialmente associações de beneficência e irmandades, como a Beneficência Portuguesa, pelo que lhe foi atribuído o Grau de Comendador e de que muito se orgulhava.
Para perpetuar a sua memória, após a sua morte, deixou a maior parte dos seus bens a instituições de caridade, com a condição de colocarem em lugares de destaque, o seu retrato a óleo, bustos seus, e ainda o desejo de que as datas do seu nascimento e morte serem consideradas dias feriados, com o seu nome [16].Fez várias doações, por exemplo, para a obra do edifício do Asilo da Mendicidade, que depois fora renomeado para Asilo dos Inválidos e posteriormente Hospital Geriátrico e de Convalescentes D. Pedro II da Santa Casa de Misericórdia, São Paulo, Brasil, sobre a condição de que só iria realizar a doação se construíssem uma estátua da sua figura, segurando o seu guarda-chuva.
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Pormenor da estátua de Joaquim Gil Pinheiro, "o homem do guarda-chuva", no jardim do Hospital Geriátrico e de Convalescentes D. Pedro II, em São Paulo [5] |
Estátua de Joaquim Gil Pinheiro, "o homem do guarda-chuva", no jardim do Hospital Geriátrico e de Convalescentes D. Pedro II, em São Paulo [6] |
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Correio Paulistano, 9 de Maio de 1921 |
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Quadro a óleo de Joaquim Gil Pinheiro, no Museu da Santa Casa da
Misericórdia de São Paulo, Brasil [7] |
A Gazeta de S. Paulo, de 19 de Setembro de 1925, na página 2, noticia que o Comendador Joaquim Gil Pinheiro, adquiriu uma obra de arte para oferecer ao Museu Paulista, na Exposição Theodoro Braga, exposição de pintura e arte decorativa, instalada na Galeria Jorge, à rua de S. Bento, 12-D. Esta obra de arte trata-se de um trabalho de pintura a óleo, do artista Teodoro Braga, intitulado "Bararoá, cabeça de índio Mundurucu", de 1911.
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Pintura de Teodoro Braga, "Bararoá, cabeça de índio Mundurucu", oferecida por Gil Pinheiro ao Museu Paulista. Fonte: wikipedia. |
No Boletim das Bibliotecas e Arquivos Nacionais, de 1908, é indicada na página 384, a listagem de pessoas que, por seus donativos ofertados à Biblioteca Nacional de Lisboa, em 1908, ficaram inscritas no respectivo Quadro de Honra. Faz parte desta listagem , o nosso prezado Comendador Joaquim Gil Pinheiro (pág. 386), tendo oferecido o Roteiro de Lisboa e o Primícias.
As Casas
Foi possuidor de várias casas no Bairro da Liberdade, em São Paulo, Brasil. Na entrevista do Museu da Pessoa a Gil Teixeira Lino [9], nascido em São Paulo a 14 de Abril de 1919, filho de Joaquim Teixeira Lino (português que terá emigrado para o Brasil, onde veio a casar). Joaquim Lino por sinal era sobrinho e afilhado de Joaquim Gil Pinheiro, Gil diz-nos que:
P/1 – Esse seu padrinho seria aquele seu tio que tinha um monte de bens aqui na ...?R – Na época o comendador Joaquim Gil Pinheiro estava praticamente em igualdade com o Conde Francisco Matarazzo. O meu padrinho era dono daqui da esquina da Galvão Bueno até a rua da Glória, as casas dos dois lados eram dele, subindo até a Tamandaré era dele. Aqui na esquina da Galvão Bueno, deste lado, era residência dele, era uma mansão enorme.
P/1 – Não existe mais?
R – Não, hoje tem um bar aqui na esquina, acabou tudo. Vindo para cá, em direção à Liberdade, íamos até a esquina da rua Fagundes, também era tudo dele. Subíamos, a rua São Joaquim até a rua Taguá era dele. As duas ladeiras que descem o Largo São Francisco até a Praça da Bandeira eram dele de lado a lado. Da Praça Antônio Prado até o Largo São Bento era tudo dele. Na época era “pari passu” com o Conde Francisco Matarazzo, que teve uma luta também para chegar ao que ele foi.
P/1 – Mas era o quê? Era uma chácara?
R – Era uma chácara grande aqui, era uma chácara e a mansão dele no meio.
P/2 – Não era urbanizado ainda?
R – Não. E ele tem uma passagem muito interessante. Quando ele faleceu, ele foi ser operado na França, em Paris, e levou o carro dele, um Rolls Royce, no navio. Levou o motorista. Faleceu na mesa de operação. Voltou para o Brasil. O corpo dele está enterrado no cemitério São Paulo, bem defronte à Capela, do lado direito, está o jazigo dele lá. Na porta tem um São Joaquim e um São Gil do tamanho natural de uma pessoa e dentro o corpo dele em mármore de carrara, sobre a mesa tumular; no frontispício, ditado por ele mesmo: “Aqui jazem os meus ossos/Neste campo de igualdade/Que esperam pelos vossos/Quando Deus tiver vontade”. Ele mesmo escreveu o epitáfio dele.
P/1 – Ele deixou descendentes?
R – Não, o pessoal todo já morreu. O único descendente sou eu.
P/1 –Tinha filho?
R – Ele não tinha filho, não tinha nada. E foi feito um livreto sobre o testamento dele que ninguém quis. Ele deixava primeiramente o testamento para a Cúria Metropolitana, a cúria não quis. Deixava para a Câmara Municipal, a Câmara não quis. Deixava para a Prefeitura, a Prefeitura não quis. Deixava para o Governo do Estado, deixou para a Rádio Educadora da época, também não quis. Por quê? Havia uma exigência, tinha que ter três dias de feriado no ano: o dia do nascimento, o dia que ele veio para o Brasil e o dia da morte.
P/2 – De onde é que ele era?
R – Ele era português. Tinha que ter no salão dessas entidades um quadro à óleo de quatro metros de altura por dois de largura, ele em corpo inteiro. E na missa que se realizasse nessas três datas, que distribuíssem aos pobres um mil réis, com o cuidado de não se dar em dobro, o pedinte pegava e recebia os mil réis, saía para ir lá para o fim da fila para pegar mais um, então quem estava dando a esmola tinha que prestar atenção a todos que desse, um mil réis com o cuidado de não se dar em dobro.
P/2 – Onde está esse livreto?
R – Ih, ainda existe por aí, no espaço. Eu tive um até muitos anos e depois, muita papelada, e eu acabei jogando fora também.
P/1 – Mas isso era uma coisa pra se guardar, né?
R – É, mas na época não se pensava nada disso.
P/1 – Esses bens ficaram com quem?
R – Ficaram... Aí vem justamente um epílogo... Ficaram... Meu pai também não quis nada. Ficou com o motorista dele, Manuel Lemes Baganha, que tinha chácara aqui na estrada que vai para Santo Amaro, depois da quadra do Banespa. Ele ficou com tudo.
P/1 – Mas ele não tinha que preencher as condições?
R – Ninguém queria, então abriram mão de tudo. Tinham uns parentes dele lá em Portugal que não se preocupavam com nada também. Manuel Lemes Baganha se transformou num herdeiro do Comendador Gil Pinheiro.
P/2 – Qual era o grau de relacionamento entre esse Comendador e o seu pai?
R – Meu pai era sobrinho.
P/1 – Deveria dar, naturalmente.
R – Mas aí papai também não quis, porque ele havia tido uma discussão, uma briga com o padrinho. Foi quando ele disse: “Já que és currão, vou deixar para os dois sobrinhos que eu tenho, para o Gil e para a Feliciana, que era a minha irmã, o meu outro irmão ainda não era nascido. Então ficaram essas duas casas aqui na Galvão Bueno, 571 e 573.
P/2 – Que é a do senhor?
R – Uma, a maior era minha e a menor era da minha irmã. Depois foram demolidas, os prédios cresceram, ficou apenas a entrada do quintal para o Grande Oriente, porque o meu pai fez questão que eu fizesse a doação, inclusive para que o pessoal entrasse, porque eles estavam em construção aqui na frente, não teriam acesso, então entrariam pelo meu quintal. Era uma escada para o quintal da minha casa e uma passagem que entra para o Grande Oriente, que existe até hoje.
A 2 de Fevereiro de 1898, o Correio Paulistano, publica-se o despacho, concedendo 8 dias, "de Joaquim Gil Pinheiro, pedindo para construir sargeta na Rua São Joaquim, esquina da Rua Galvão Bueno". A 5 de Janeiro de 1925, na folha5, o Correio Paulistano publica que "acham-se aprovadas na Directoria de Obras e Viação, as plantas apresentadas por (...) Gil Pinheiro, para reformar prédio à Rua Galvão Bueno, 123."
O livro "A cidade-exposição: comércio e cosmopolitismo em São Paulo, 1860-1914", de Heloísa Barbuy, menciona na página 43, a propósito dos projectos de casas de comércio conjugadas com residência no mesmo edifício, em andares superiores, o exemplo "(...) E do edifício projectado para o nº2 também da Rua de São Bento (depois, possivelmente, nº12 ou 14), propriedade do comendador Gil Pinheiro, entre as ruas José Bonifácio e Direita", Sobre o nº 2, é dito em nota de rodapé: "Há dificuldades para se estabelecer a correspondência do nº 2 e demais números da primeira quadra par da rua de São Bento com a nova numeração levada a efeito, nessa rua, em 1910. Mesmo em seu tempo, o nº 2 dava margem a dúvidas. Dizia, em 1908, o engenheiro Sá Rocha, da Prefeitura, dirigindo-se ao director de obras: 'Sr. Director / Há na rua de São Bento 3 números 2. Um é agência de leiloeiro com um só portão largo, e os outros dois, duas lojas de 3 portas cada uma nos baixos do Hotel de França (dependência). Não sei, pois, onde é o nº 2 a que se refere a parte' (Arquivo Municipal Washington Luís, fundo "Directoria de Obras, série "Obras Particulares" caixa 37-A, fl. s/n)".
Neste mesmo livro, na página 62, é mencionado novamente o nº 2 da Rua de São Bento, no âmbito da Lei n. 1.011, que concedia isenção de impostos para proprietários que construíssem prédios com mais de 2 pavimentos acima do solo, e era necessário que as respectivas fachadas fossem aprovadas pela prefeitura, o que levou os proprietários a buscar os serviços de engenheiros e arquitectos, abandonando-se a contratação de empreiteiros, cujos projectos eram agora considerados de pouco requinte para o que se esperava dos novos edifícios. "Entre as datas de 6 de Julho de 1907, quando se promulgou essa lei, e 6 de Agosto de 1909, quando cessaram os seus efeitos, foram cerca de 7 os edifícios construídos nas 3 ruas principais com os incentivos fiscais que ela oferecia. Há o caso do comendador Joaquim Gil Pinheiro, que, em 1908, pretendia construir um edifício na Rua de São Bento (à época, nº 2) e beneficiar-se dos incentivos da lei (...). Para tanto apresentou projecto de Luiz Bahia, cuja fachada foi considerada, pelo engenheiro Sá Rocha, da Directoria de Obras, 'arquitectonica e esteticamente ridícula' e sem condições, portanto, de obter os benefícios pretendidos. Só depois de apresentar um novo projecto de fachada, desta vez da autoria do arquitecto Max Hehl (e mesmo assim com controvérsias entre engenheiros da Directoria de Obras), é que pode obter o incentivo'".
O Correio Paulistano de 5 de Junho de 1927 publica a continuação de um Edital sobre a Recebedoria de Rendas da Capital, exercício de 1927 e 1928, relativos ao Imposto Predial e Taxa de Esgotos. Aqui podemos verificar que surgem várias casas em nome de Joaquim Gil Pinheiro:
- Ladeira São Francisco: 19 e 21
- Rua da Boa Vista: 19
- Rua São Joaquim: 66, 68, 70, 71, 73, 75, 77, 79
- Rua Galvão Bueno: 119, 121, 123, 125, 129, 131
- Rua Livre: 6
- Rua Vergueiro: 11
- Rua Rodrigo Silva: 42, 42A, 42B, 44, 46
- Largo Riachuelo: 50, 52
- Rua Pirapitinguy: 10, 14, 16, 18
Destas casas que aqui são listadas, cujas ruas podemos encontrar num mapa de 1913 de São Paulo, verifica-se que o nº 123 da Rua Galvão Bueno é a casa do "meio" de um conjunto de casas, o que vai de encontro ao que foi dito pelo tal sobrinho na entrevista acima publicada. Portanto, a casa onde morava Gil Pinheiro era de facto no nº 123 da Rua Galvão Bueno, fazendo esquina com a Rua São Joaquim. Numa entrevista de 1910 sobre a Implantação da República, é dito que Gil Pinheiro recebeu o jornalista no seu palacete no Largo da Forca.
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Ruas onde Joaquim Gil Pinheiro tinha casas. A rua assinalada com o nº 49 é a Ladeira São Francisco. Mapa de São Paulo de 1913. |
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Vila Comendador Gil Pinheiro à Rua Pirapitingui, nºs 34/36, Bairro da Liberdade, São Paulo |
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Vila "Comendador J.Gil Pinheiro 1917", com inscrição na fachada e iniciais JGP no portão (foto actual via GoogleMaps) |
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Vila "Comendador Gil Pinheiro", pormenor da fachada das casas nº 36 e 34 (foto actual via GoogleMaps) |
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Vila "Comendador Gil Pinheiro", portão da casa 46, com as iniciais JGP (foto actual via GoogleMaps) |
Beneficência no Alcaide
No Alcaide, foi a Joaquim Gil Pinheiro que se ficou a dever a exploração e canalização da água para abastecimento da população, assim como a construção de:
- Chafariz da Praça, inaugurado a 29 de Novembro de 1914, contando com a sua presença, e que ostenta o seu busto em bronze;
- Chafariz do Adro da Igreja, de 31 de Dezembro de 1914
- Tanque dos Burros, que recebia a água corrente vinda do Chafariz da Praça, para os animais poderem saciar a sua sede, aproveitando-se a água do Chafariz da Praça.
Saliento que encontrei uma informação de outra data de inauguração, a 10 de Fevereiro de 1915 [16] e por este motivo não tenho a certeza de qual será a mais correcta.
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Tanque dos Burros, Alcaide (foto actual via GooleMaps) |
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Chafariz do Adro [14] |
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Chafariz da Praça, no Alcaide, com o busto de Joaquim Gil Pinheiro, por altura da sua inauguração. Foto do livro "Um Paranóico de Grande Tomo", de Plínio Barreto [3] |
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Praça Joaquim Gil Pinheiro, Alcaide, 1941 [13] |
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Praça Joaquim Gil Pinheiro, Alcaide [17] |
Este Chafariz da Praça, onde se lê "O comendador Joaquim Gil Pinheiro, filho desta terra, residente em Sam Paulo no Brazil, mandou fazer este chafariz de acordo com a junta de parochia.", "COM. J. GIL PINHEIRO / 1914", foi construído pelo meu trisavô, Francisco de Paulo, no entanto mais tarde decidiu-se que o busto deveria estar de frente para a Praça e não de costas para a Praça, e rodaram o busto para a posição em que hoje se encontra.
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Chafariz da Praça |
No Alcaide, existe a Praça Gil Pinheiro, onde se encontra o Chafariz da Praça, com o seu busto.
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Praça Gil Pinheiro, Alcaide, Portugal (foto actual via GoogleMaps) |
No Alcaide, mandou construir um lagar da cera para o fabrico de velas, mas infelizmente este já não existe actualmente.
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Lagar da Cera de Joaquim Gil Pinheiro, no Alcaide [3] |
No seu lugar foi construída uma moradia e o nome Rua Lagar da Cera ficou para a posteridade, iniciando-se no sítio onde este existira.
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Rua Lagar da Cera, Alcaide (foto Bing maps) |
Condecorações
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Fotografia de Gil Pinheiro, onde é possível ver a Cruz da Ordem de Cristo e o colar da Sociedade de Geografia de Lisboa, com a medalha de prata. |
No Ilustração Paulista Nº1, de 22 de Outubro de 1910, é publicada uma entrevista a Joaquim Gil Pinheiro sobre a Implantação da República Portuguesa, ocorrida a 5 de Outubro de 1910. Gil Pinheiro recebeu o entrevistador na sala de jantar do seu palacete no Largo da Forca, em São Paulo. Na lapela, Gil Pinheiro trazia, em miniatura o crachá da Ordem da Conceição de Vila Viçosa, e um colar distintivo da Sociedade de Geografia, recebido por mérito. Ofereceu ao entrevistador um pichel do belo vinho verde, que havia recebido de Freixo de Espada à Cinta.
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Entrevista a Gil Pinheiro, sobre a Implantação da República, 1910, parte 1. |
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Entrevista a Gil Pinheiro, sobre a Implantação da República, 1910, parte 2. |
Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa
Sabemos então que em 1910, Gil Pinheiro já era comendador e que para a entrevista sobre a Implantação da República exibia o crachá da Ordem de N. Sra. da Conceição de Vila Viçosa. Depreendo que seja Comendador desta Ordem.
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Crachá de comendador da Ordem de N. Sra da Conceição de Vila Viçosa |
Sociedade de Geografia
Na mesma entrevista, usava o distintivo colar da Sociedade de Geografia, recebido por mérito da escrita do livro Primícias.
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Colar da Sociedade de Geografia de Lisboa, com a medalha de prata comemorativa dos 400 anos de Camões, de 1880. Na inscrição lê-se "Por mares nunca dantes navegados". |
Tornou-se sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa, sendo admitido na sessão de 6 de maio de 1907, conforme é mencionado na 25ª série do Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, 1907.
Onde a sua obra "Roteiro de Lisboa" ficou em candidatura para entrar na biblioteca desta Sociedade:A Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, v. 12 de 1907, página 680, menciona na acta da 2ª sessão ordinária, de 20 de Fevereiro de 1907, que Gil Pinheiro ofereceu ao Instituto os livros Primícias, versos, e Roteiro de Lisboa.
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Excerto do Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, de 1910. |
Comendador da Ordem de Cristo
No Ilustração Paulista Nº1, de 22 de Outubro de 1910, acima referido, é feita referência a uma condecoração ao Comendador de Cristo, Joaquim Gil Pinheiro:
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Anúncio de condecoração ao Comendador de Cristo, Joaquim Gil Pinheiro, 1910 |
O jornal O Paiz (do Rio de Janeiro), de 23 de Junho de 1920, página 4, informava que Gil Pinheiro , residente em São Paulo, encontrava-se nesta capital, e relembrou que foi onde recebeu o seu título de Comendador da Ordem de Cristo, de Portugal.
A Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo, originalmente era uma ordem religiosa e militar, criada a 14 de Março de 1319. Recebeu o nome de Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo ou Ordem da Milícia de Nosso Senhor Jesus Cristo. Com a extinção das ordens religiosas em 1834, também a Ordem de Cristo foi extinta. D. Maria II contituiu-a em ordem honorífica até à sua extinção, em 1910, com a implantação da República Portuguesa. A ordem foi restabelecida pelo Decreto de 1 de Dezembro de 1918 como a Ordem Militar de Cristo, "destinada a premiar os serviços relevantes de nacionais ou estrangeiros prestados ao país ou à humanidade, tanto militares como civis" [22].
Cavaleiro da Ordem Militar de Cristo
Recebeu a mercê do grau de Cavaleiro da Ordem Militar de Cristo, concedida pelo presidente da república portuguesa em 1920, concedida por actos de filantropia e benemerência. (documento disponível na Torre do Tombo, no Registo Geral das Mercês, Mercês Honoríficas, livro 1 (nº de ordem 354, registo 34, folha 10, código de refª PT/TT/RGM/P/0001/003410).
Esta ordem tem apenas 5 graus:
- Cavaleiro ou Dama
- Oficial
- Comendador
- Grande-Oficial
- Grã-Cruz
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Fita de Comendador da Ordem de Cristo |
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Placa de Comendador da Ordem de Cristo |
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Medalha de Cavaleiro da Ordem de Cristo |
Grã Cruz de Honra da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência de São Paulo
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Hospital São Joaquim, edifício da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência, na Rua Alegre (hoje Brigadeiro Tobias), São Paulo, inaugurado em 1876. Fonte: wikipedia |
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Joaquim Gil Pinheiro (Comendador), Sócio Cruz de Honra da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência |
No seu livro Primícias, dedicou, na página 16, 3ª estrofe, as seguintes oitavas:
Medalha de prata do Instituto de Socorros a Náufragos de Lisboa
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Exemplo de diploma de Medalha de Prata do Instituto de Socorros a Náufragos (ISN). Fonte: BestNetLeilões |
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Exemplo de medalha de prata do ISN. Fonte: BestNetLeilões |
Investimentos
No Diário Oficial do Estado de São Paulo, de 8/7/1922, página 4402 e 4403, é publicada a acta da assembleia geral ordinária da Companhia Mogyana de Estradas de Ferro e Navegação, realizada aos 28 de Junho de 1922, na qual estiveram presentes 389 accionistas, um dos quais foi o Comendador Joaquim Gil Pinheiro, onde se debateu a aprovação do relatório, balanço e contas do ano de 1921, pedido de aumento de capital em 20 mil contos, sobre o qual o nosso Comendador se pronunciou, e ainda a eleição dos membros efectivos e suplentes do conselho fiscal, sobre a qual Gil Pinheiro também se pronunciou.
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Capa do relatório da Directoria da Companhia Mogyana, 1922 |
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Joaquim Gil Pinheiro, accionista da Companhia Mogyana, 1922 |
Esta acta ficou registada Relatório Nº 70 da Directoria da Companhia Mogyana de 1923, folha 82, na qual se lê:
Na acta da assembleia geral de 1922, publicada no Relatório Nº 70 da Directoria da Companhia Mogyana de 1923, folhas 83 e 84, lê-se ainda a proposta de Joaquim Gil Pinheiro, de um voto de louvor à Directoria da Companhia, aprovado por unanimidade. Neste relatório Nº 70, Joaquim Gil Pinheiro aumentou o nº de acções para 300, passando a dispor de 27 votos.
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Relatório Nº 70 da Directoria da Companhia Mogyana de 1923, folhas 83 e 84. |
No relatório do ano seguinte, de 1924, Gil Pinheiro intervem novamente na sessão de 6 de Setembro de 1923, desta vez com uma nova proposta para ajudar a resolver os problemas da Companhia.
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Relatório Nº 71 da Directoria da Companhia Mogyana, de 1924, folha 44. |
Após o seu falecimento, passou a constar destes relatórios como o accionista "Joaquim Gil Pinheiro, herança"
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Relatório Nº 78 de 1931, da Companhia Mogyana. |
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Foto do Comendador Joaquim Gil Pinheiro |
Falecimento
Faleceu a 28 de Novembro de 1926, em Coimbra. O periódico "Folha da Manhã" de São Paulo, de 1 de Dezembro de 1926 publicou a nota do seu falecimento.
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"Folha da Manhã" de São Paulo, de 1 de Dezembro de 1926 |
Nesta folha do jornal é possível ler, na secção Telegramas - Portugal, o seguinte: "Falecimento de Gil Pinheiro. Lisboa, 30 (U.P.) - Faleceu em Coimbra, onde se achava a passeio, o comendador Joaquim Gil Pinheiro, que durante muitos anos residiu em São Paulo, para onde o seu corpo será enviado, depois de embalsamado."
A 29 de Maio de 1927, no Correio Paulistano, é noticiado que se espera a chegada a Santos do corpo embalsamando. neste dia 29, no dia seguinte a sua chegada a São Paulo. O corpo fora embarcado no dia 13 do mesmo mês e ano. Para além de uma descrição dos feitos alcançados em sua vida, e homenagens (agraciado com o título de Cavaleiro da Ordem de Cristo, a Grã Cruz de Honra da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência de São Paulo, medalha de prata do Instituto de Socorros a Náufragos de Lisboa, para além do busto em bronze na praça da sua terra natal, Alcaide), noticia também como seu deu a sua morte "O seu falecimento deu-se a 28 de Novembro do ano findo, na cidade de Coimbra, onde se encontrava em viagem de recreio e tratamento. Acometido de súbita moléstia, teve de submeter-se a melindrosa intervenção cirurgica e, não obstante todos os recursos do que lançaram mão os médicos assistentes, na justa expectativa de salvai-o, o sr. Comendador veio a falecer justamente em consequência dessa intervenção". Noticia ainda que se prepara o seu funeral, e a construção de um majestoso mausoléu, com o espaço de 5 quadras, no Cemitério de São Paulo.
De facto, os seus restos mortais encontram-se no tal mausoléu, com um busto que ele próprio mandou fazer ainda em vida [20], no Cemitério de São Paulo (ou Necrópole de São Paulo, tal como ostentado na sua fachada) Brasil, ficando na Rua Cardeal Arco Verde, Bairro de Pinheiros.
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Entrada do Cemitério de São Paulo. Foto via Google Maps. |
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Mapa de visitação do Cemitério de São Paulo. |
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O nome de Joaquim Gil Pinheiro surge escrito com o apelido errado, no Guia de Visitação do Cemitério de São Paulo |
O seu mausoléu fica localizado perto da Capela, no nº 30 do mapa acima indicado, e o guia de visitação indica que Gil Pinheiro doou as terras onde hoje é o Cemitério de São Paulo, inaugurado em Janeiro de 1926, poco tempo antes de Gil Pinheiro falecer.
Este cemitério encontra-se mapeado no Google Street View e desta forma pode-se visitar a arte tumular deste cemitério, a partir do computador.
À entrada do mausoléu estão 2 santos, S. Joaquim e S. Gil. Por cima, encontra-se o busto de Joaquim Gil Pinheiro e uma quadra que o próprio escreveu. Os nomes dos seus livros estão inscritos nas placas que rodeiam a entrada.
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Mausoléu de Gil Pinheiro, na Necrópole de São Paulo. Foto via GoogleStreetView |
No exterior do mausoléu de Joaquim Gil Pinheiro lê-se a seguinte quadra, que se localiza por baixo do busto:
Neste campo de egualdade
pois que esperam pelos vossos
quando Deus tiver vontade.
J. Gil Pinheiro
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Quadra no exterior do mausoléu de Gil Pinheiro. |
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Vista exterior do mausoléu de Gil Pinheiro. Foto via Google Street View. |
No interior do mausoléu, lê-se:
"Aqui jazem os restos mortaes do Commendador Joaquim Gil Pinheiro nascido em Portugal no anno de 1855, que muito amou o Brasil, com especialidade São Paulo, onde viveu 48 annos até o dia de seu fallecimento a 28 de novembro de 1926. Orae por elle."
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Interior do mausoléu de Joaquim Gil Pinheiro [12], no cemitério de São Paulo |
Testamento e Herança
Ele próprio escreveu o seu testamento, em 28 de Março de 1923, no 10º Tabelião de São Paulo. Era um homem extremamente religioso, filantrópico e muito vaidoso, com uma visão muito avançada para a sua época. No seu testamento propôs a criação de uma Fundação para o assistencialismo às pessoas carentes.
No entanto, a herança do comendador fez correr muita tinta na imprensa brasileira.
Era seu desejo que fossem construídas as seguintes instituições com o seu nome:
- Patronato Profissional, Comendador Gil Pinheiro, com sede na sua casa, Rua Galvão Bueno, 123, São Paulo, para meninos órfãos de pai e com mães pobres;
- Escola Profissional, Comendador Gil Pinheiro, para as meninas aprenderem a serem boas donas de casa, desde a vassoura até ao piano;
- Patronato de Cegos, Comendador Gil Pinheiro, com escolas e oficinas de artefatos para cegos de ambos os sexos;
- Externato Católico, Comendador Gil Pinheiro, para meninos e meninas aprenderem a educar suas famílias nos preceitos da santa religião;
- Amparo Profissional, Comendador Gil Pinheiro para abrigo de meninas;
- Escola Mista, Comendador Gil Pinheiro.
1927
O seu motorista Manoel Enes Baganha ficou como inventariante e testamenteiro do espólio do comendador Joaquim Gil Pinheiro (relatado no Diário Nacional, 16 de Dezembro de 1927, página 4 ), e foram largos anos de sessões de julgamento até o espólio ser atribuído a quem de direito. O motivo do arrastamento é o conteúdo do testamento feito nas notas do 10º Tabelião, a 28 de Março de 1923.
1928
No seu testamento, Joaquim Gil Pinheiro deixou à Junta da Paróquia da povoação do Alcaide a quantia de dez mil escudos, ou seja, dez contos de réis, para a conservação do chafariz e seu busto de bronze que o encima, bem como para a conservação do seu nome na Praça onde o chafariz se encontra, não sendo desviada qualquer quantia para outro fim. Deixou, ainda, em testamento mil escudos, um conto de réis, para serem distribuídos aos pobres do Alcaide, somente aos que fossem nascidos no Alcaide, nessa povoação residissem e assistissem à Missa, na Igreja Matriz, por sua intenção, dando a cada um cinco escudos, depois de deduzidas as despesas com a missa. Dessa acção, ficaram encarregados o Visconde do Alcaide e o Professor António dos Santos de Oliveira Ramalho.
1929
No Diário Nacional (SP) de 17 de Fevereiro de 1929, nº 499, publica-se acerca dos debates acesos em torno do legado do Comendador Gil Pinheiro.
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Excerto do Diário Nacional de 17 de Fevereiro de 1929 |
1930
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Parte 1 |
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Parte 2 |
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Parte 3 |
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Parte 4 |
O julgamento continuou e no dia 3 de Outubro de 1930, o Correio Paulistano publica o parecer Nº 100 de 1930, no qual se autoriza o Prefeito a desistir dos legados instituídos pelo testamento de Gil Pinheiro.
1932
O Diário Oficial do Estado de São Paulo, de 30 de Março de 1932, páginas 21 e 22, Revista dos Tribunais Nº 70 Ano 42º, publica uma decisão relativamente à tentativa de pedido de anulação do testamento, por parte de Ana Valente Pinheiro, Francisco António Valente da Silva, Delfina da Purificação Lino, Ana Silva Lino Couto, César da Silva Lino e seus filhos António Ribeiro da Silva Lino e Maria de Lourdes Almeida e Silva, com base em:
"(...)o testamento do Comendador Gil Pinheiro não pode persistir, porque o testador, no momento em que o redigiu e subscreveu não estava em seu perfeito juízo (...) nos próprios termos do testamento se encontra a prova de que o testador não era homem de mentalidade sã, prova que é reforçada pelas produções literárias do Comendador Pinheiro e por actos que, no decorrer da existência, ele praticou aqui e em Portugal.
Além disso, o Comendador sobre ser portador de antecedentes psicopáticos de extrema gravidade sofreu, nos derradeiros anos de vida, uma arteriosclerose que ainda mais acentuou, agravando-a, a moléstia mental.
Com efeito, a mãe do testador foi uma débil mental avassalada por um fanatismo religioso tão intenso, que a fazia descurar inteiramente da vida do lar, e cometer acções de uma insania manifesta, e o seu pai foi um alcóolico impenitente.
Acresce que o Comendador Gil Pinheiro se destacou sempre:
1º pelo orgulho desmarcado, votando à própria pessoa um culto de latria, ou pelo menos, de dulia
2º pela desconfiança hostil de todos que o cercavam
3º pela extravagância do raciocínio
4º pela absoluta inadatabilidade social, isto é, pelos defeitos e singularidades que os especialistas consideram traços distintivos da paranóia.
(...) os legados além de visarem unicamente a apoteose permanente e perpétua do testador, tais encargos acaretavam para os legatários e com tal extravagância foram estabelecidos que os legatários das somas mais vultuosas, a Santa Casa da Misericórdia de São Paulo, a Sociedade Portuguesa de Beneficência e a Mitra Arcepiscopal de São Paulo, uma por uma, renunciaram aos seus benefícios, reputando inaceitáveis por gente sensata e inexequíveis por toda a gente as disposições de última vontade do testador.
(...) concluem pedindo a sua anulação com a devolução a eles, autores, parentes colaterais dentro do sexto grau, da herança (...)
Em contestação, sustenta (...) o inventariante e testamenteiro Manuel Enes Baganha, que o Comendador Pinheiro, aos contrário do que afirmam os autores, foi sempre um homem normal e ponderado, como atesta o acervo de bens que deixou, todos de óptimo rendimentoe livres de dívidas (...) a única originalidade descoberta no testamento consiste na pretenção do testador em querer perpetuar a sua memória com versos e frases que a sua mentalidade criou: mas essa originalidade, se tem alguma coisa de ridícula, como querem os autores, tem também um cunho de moralidade, facilmente perceptível de quem considerar que os versos, frases e conselhos recomendados pelo Comendador Pinheiro eram para ser lidos e meditados pelos desprotegidos da sorte que fossem recolhidos aos estabelecimentos por ele projectados e não pelos letrados. E a sua obra literária (...) produto de um homem com poucas letras, prova a sua capacidade de testar.
(...) Finalmente, nota (...) que os antecedentes psicopaticos aludidos no libelo, como toda e qualquer tara, precisa de um ambiente apropriado para se desenvolver, e em se tratando de loucura, o campo propício seria a embriaguez e a sífilis.
O Comendador Pinheiro, porém, não era dado a bebidas, nem um sifílico, factos esses realçados por todos os médicos que o trataram e que muito contribuiram para lhe prolongar a vida. (...)
Os peritos, em seu laudo médico legal, (...) concluiram pela paranoia do atestador. Aqueles afirmal que o Comendador Pinheiro era um paranóico do tipo dos "megalomaníacos". Resumiram desta maneira as características do Comendador:
I) Vaidade mórbida, impossível de por ele ser dominada: megalomania
II) Grafomania irresistível: escrevia sobre tudo o que lhe vinha à cabeça
III) Desacordo completo entre sua inteligência, instrução e suas altas pretenções a literato
IV) Excesso de subjectividade; interpretava tudo ao sabor de suas ideias de grandeza, não via o ridículo que suas poesias lhe lançavam
V) Desconfianças: embora seu delírio de perseguição fosse secundário, comparado com o delírio de grandeza, alimentava ele suspeitas bem claras contra certas pessoas: interpretava como inveja as palavras dos que lhe diziam a verdade sobre seus méritos literários
VI) Tinha muito dinheiro, mas só fazia obras de benemerência sobre condição: retratos a óleo, bustos (que ele mesmo fornecia) a serem colocados em salões de honra, etc
VII) Solteirão de uma sovinice pouco louvável, que lhe trazia pequenos atritos com criados, copeiros de hotéis e "chauffeurs"
VIII) Afectividade doentia, exagerada: temperamento explosivo, violento
(...)
Aceitas as conclusões a que chegaram os ilustres peritos (...) toda a controvérsia destes autos se cinge a este ponto: os monomaníacos "megalomaníacos" podem testar? Ou por outras palavras, tendo sido o Comendador Pinheiro um megalomaníaco, tinha capacidade para testar? O Código Civil Brasileiro, bem como o Português editam que os loucos não podem testar (arts 1627, n. II e 1764). Qual a enfermidade mental e o grau da mesma, porém, que produzem incapacidade de testar? (...)
Contudo, irrecusável é que, não obstante tudo isso, ele soube conduzir-se em vida, governando sua pessoa e administrando os seus bens adquiridos com o seu trabalho, de modo a tornar-se possuidor de fortes cabedais.
De simples imigrante, veio a ser milionário, graças ao seu trabalho perseverante e tino administrativo.
A sua vida, exclusão feita da sua exagerada vaidade, nenhuma anormalidade apresenta.
Ora, poder-se-á negar a quem soube tão bem dirigir-se em vida, o direito de testar? (...)
Ao testamento do Comendador Pinheio increpa-se tão só as extravagâncias já apontadas, e outras. Nada se diz, nem se poderia dizer, contra os estabelecimentos de caridade e escolas que idealizou. Consigne-se que essas extravagãncias, mais acentuadas quando o testamento se refere à Santa Casa da Misericórdia de São Paulo e à Mitra Arquiepiscopal de São Paulo, são mínimas em referência à Câmara Municipal desta capital. Nesse passo, o testador exigiu tão somente lhe dessem o nome às escolas municipais que viessem a ser abertas e a alguma rua ou praça pública.
O testador apenas foi mais cauteloso que o comum dos doadores, que esperam dos legatários a homenagem ambicionada... assim, não se pode afirmar que o testamento em questão seja, na sua integridade, obra da parte doentia da inteligência do testador. O testamento, exclusão feita das condições estabelecidas para a aceitação dos legados, é obra de um homem são.
Fazemos tal afirmação, porque sobre visar a criação de estabelecimentos de alta finalidade social, o testamento do Comendador Pinheiro não prejudicou quem quer que seja.
Os seus parentes, que ora lhe reclamam a herança, são bem longínquos, compreendendo-se por isso a sua afirmação de que não tinha parentes, isto é, parentes próximos, necessários.
Não esqueceu o testador a sua concubina, o seu amigo Baganha e os seus afilhados.(...)
Pretende-se ainda que o testamento do Comendador Pinheiro é nulo porque as legatárias (...) recusaram os legados intituídos. As legatárias, é facto, recusaram. Recusaram, porém, os legados não porque eles sejam inexequíveis, mas porque não quiseram submeter-se às suas condições (...)
Em suma, repugna recusar capacidade testamentária a quem soube em vida reger a sua pessoa e administrar os seus bens, até com sucesso. A excentricidade não é interdita em matéria de testamento (...)"
1934
Noticia-se na publicação "A Noite" do Rio de Janeiro, de 26 de Abril de 1934, na 1ª folha, que a herança deixada por Joaquim Gil Pinheiro, continua a ser disputada, perante o Tribunal de Justiça. "(...) O testamenteiro Manuel Ennes Baganha, diante das complicações para a execução da vontade do morto, recorreu aos tribunais, tendo como advogado o Sr. Noé de Azevedo, enquanto que os parentes do comendador entregaram a defesa da sua causa ao Sr. Plínio Barreto."
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Notícia no "A Noite" do Rio de Janeiro, |
1937
Mais de 10 anos após a sua morte ainda se publicavam artigos na imprensa sobre a execução do seu testamento, que deixava o seu espólio a diversas intituições, e indivíduos, sob condições que não eram possível de concretizar. Este artigo da Revista Flama (SP) Nº 5, de Maio de 1937, apresenta um resumo deste caso.
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Revista Flama (SP), Maio, 1937, artigo "A herança do Commendador"[18] |
Este artigo diz o seguinte:
"Morreu há anos, em São Paulo, o Commendador Gil Pinheiro, senhor de grandes haveres, que levou a vida comum dos homens do seu temperamento: trabalhando e acumulando, gozando muito pouco este quase nada que se passa no mundo.
Quem o visse, pouco dado a espalhafatos, muito interessado sempre com os seus negócios, comprando coisas de ocasião, com indispensável espírito de oportunista, julga-lo-ia a pessoa mais modesta que perlustrava as ruas garoentas da encantadora Paulicéa. Que se saiba, poucos foram os actos de benemerência do nosso ilustre Comendador, que era, de resto, homem recto e de impecável linha de conduta, conselheiral e discreto, mesmo quando colocava à lapela a sua adorada comenda, a destacar-se sobre o preto luzidio da casaca pelo tom rubro da roseta. Era, no entanto, um homem de princípios, diziam todos. Moralista à antiga e dono de imensa bagagem de preconceitos, de que se não afastava, desse por onde desse. Quando ele passava, descobriam-se gregos e troianos. Era o sr. comendador que ali ia, possuidor de uma grande fortuna e de uma imensa, incomensurável modéstia.
E o velho Comendador, que era arguto e bom conhecedor das regras de bem viver, não se dava por achado. Mantinha-se, inalterável e austero, diante do mais repicado elogio. Dissimulava admiravelmente a enorme satisfação que lhe causavam os salamaleques e as veneras, a ponto de o julgarem inacessível ao concomio...
A parentela, grande e presunçosa, aquém e além Atlântico, antegosava a partilha da fortuna, meticulosamente acumulada, em anos e anos de labor fecundo. E admiravam-se todos, da vida que o bom velho levava, armazenando para torná-los felizes... Mas um dia verificou-se o inevitável. Morreu o Comendador. E viu-se então, que o honrado lusitano era, dentro da sua aparente modéstia, de um orgulho espantoso. O que ele parecia não querer em vida, desejava-o ardentemente, como homenagens póstumas... Os grandes homens - o Comendador devia saber disso - são mais falados depois de entregarem a alma ao criador. E ele forçou, inteligentemente, as portas da celeridade. Deixou quase tudo a instituições caridosas. Mas, em troca, queria a sua glorificação eterna: estátuas, missas e proclamações cívicas. A herança, que deve subir a perto de dez mil contos, tornava-se, dessa forma, um ónus espantoso. E, de tal sorte, foi rejeitada pelos pios estabelecidos a que ele a destinava em sua quase totalidade.
Lembrando-se de todos os parentes, não deixou o Comendador de os aquinhoar também, deixando a cada um uma lembrancinha, que, recebida, afinal, não compensaria os trabalhos da habilitação. Deixando pequenas quantias a diversos parentes, afilhados e compadres, recomendava o doador que nada se lhes desse, se, por acaso o beneficiado lhe devesse. E lá estava, apensa ao testamento, uma longa relação dos seus devedores, de que não escapava nenhum dos contemplados...
Rejeitada a herança, devido aos ónus que determinava às instituições que deviam recebê-la, movimentaram-se os herdeiros do Comendador, que propuseram a anulação do testamento, alegando diversas nulidades que mereceram o apoio da justiça, com ganho de causa para os que se julgam com direito a ela. E lá se desfez, em parte, o sonho daquele homem bom, que parecendo o mais modesto dos viventes, alimentava, todavia, uma imensa vaidade póstuma.
O Comendador Gil não terá estátuas, nem institutos com o seu nome, nem as missas e cerimónias que determinou. Mas a sua herança ficará célere. Discute-se há mais de 10 anos. Há pilhas e pilhas de volumes de habilitações, processos de contestação, agravos, recursos e demais termos que os senhores escrivães sabem estender às mil maravilhas. O seu nome transitou por todas as instâncias, foi objecto das mais acaloradas discussões. Está, pois, satisfeito, em parte, o desejo do Comendador: deixar nome na história!"
A Gazeta Popular, de 12 de Maio de 1937 [19] também dedicou uma coluna à herança do Comendador, noticiando a chegada a São Paulo, do herdeiro sr. Luís Ferreira da Silva, acompanhado do dr. Henrique Ferreira Barreto, também interessado na herança, vindos de Portugal pelo navio "Massilia", para tomar posse da parte dos bens que lhe coube. Os herdeiros do comendador fizeram valer os seus direitos e conseguiram o anulamento do testamento, tendo ganho a causa, entrando na posse dos valores respectivos. A mesma notícia foi publicada no Correio Paulistano, de 13 de Maio de1937, página 21.
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Coluna da Gazeta Popular, 12 de Maio de 1937 [19] |
Recordando a vida e morte
1946
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Coluna no Jornal de Notícias de São Paulo, de 8 de Setembro de 1946 |
1949
A história da herança de Gil Pinheiro continuou a alimentar publicações durante largos anos. O Diário da Noite, em 1949 publicitou (por várias vezes) um artigo a ser publicado a partir de 23 de Outubro de 1949, no Diário de S. Paulo, intitulado "A herança que ninguém quis - a fabulosa história do comendador Gil Pinheiro".
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No Diário da Noite, de 29 Setembro de 1949 |
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No Diário da Noite, de 22 de Outubro de 1949 |
1962
No Diário da Noite, de 30 de Outubro de 1962, folha 6, ainda se recordava Gil Pinheiro, a sua fortuna, o seu túmulo e o seu testamento, num artigo sobre a super-população dos cemitérios paulistanos, destacando personalidades que se encontram em cada um dos cemitérios. Na coluna sobre o Cemitério de São Paulo, destaca-se a história de Gil Pinheiro.
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No Diário da Noite, de 30 de Outubro de 1962 |
Foi homenageado com o nome de uma rua, a Rua Comendador Gil Pinheiro, no Distrito de Aricanduva, na zona leste de São Paulo, assim como a Rua Primícias (em homenagem ao seu livro).
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Rua Comendador Gil Pinheiro, São Paulo, Brasil (foto actual via GoogleMaps) |
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Rua Comendador Gil Pinheiro, São Paulo, Brasil (foto actual via GoogleMaps)
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Apontamentos Finais
Concluo que Joaquim Gil Pinheiro, era um bom homem, de coração generoso e muito trabalhador. Chegou ao Brasil para tentar a sua sorte, como tantos outros, no entanto a sua perseverança em ter sucesso nunca o fez desistir. Chegou a São Paulo numa altura em que São Paulo era uma cidade pequena, com ruas em terra batida, sem passeios. Assistiu ao desenvolver de São Paulo, ao colocamento dos passeios, empedramento das ruas, instalações sanitárias nas casas, ao crescimento de uma capital que se tornou numa cidade ao nível das capitais da Europa. Chegou a São Paulo no momento certo.
Trabalhou, criou os seus negócios, investiu, ganhou a vida, dedicou-se à escrita literária, envolveu-se na sociedade geográfica, entregou-se a obras de beneficência tanto em São Paulo como no Alcaide, os lugares do seu coração. Em reconhecimento dos seus feitos, recebeu condecorações e foi homenageado.
Com boas intenções, redigiu o seu testamento para que o seu legado fosse usado para melhorar a educação e ajudar os pobres, causas nobres o motivavam, mas em troca queria reconhecimento à sua pessoa (como seria expectável). Cometeu o erro de não ter o testamento redigido/validado por um advogado - facto apontado em debates - deixando contradições, dúvidas e cláusulas difíceis de cumprir para quem ficasse com o seu legado. Não posso opinar em concreto sobre todo o conteúdo do testamento, porque nunca o li. Li apenas excertos, de cláusulas que me pareceram irrealistas. Teria a loucura tomado conta de Gil Pinheiro nos seus últimos anos ou queria simplesmente garantir que lhe seria dado reconhecimento póstumo pelo uso do seu legado?
Fosse qual fosse o motivo, resta deixar-lhe esta homenagem por tudo o que fez na sua vida e pelo bem que fez aos outros.
Um grande bem-haja ao nosso Comendador Joaquim Gil Pinheiro.
Outros documentos de interesse
- Correspondência recebida de Joaquim Gil Pinheiro, em "Documentos relativos a Francisco Joaquim Ferreira do Amaral", Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
- Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, subordinado aos temas "Da conveniência de um acordo luso-brasileiro, conferência do Dr. Escragnolle Doria" e "Os Portugueses no Brasil, tomando por base a luso-colónia em São Paulo, por Joaquim Gil Pinheiro", Arquivo Nacional da Torre do Tombo
- "Um Paranóico de Grande Tomo", de Plínio Barreto
Fontes
- [1] http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2014/07/joaquim-gil-pinheiro-da-freguesia-de.html
- [2] http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2015/07/joaquim-gil-pinheiro-e-doacao.html
- [3] http://alcaide-aldeiadagardunha.blogspot.com/2012/03/personalidades-alcaidenses.html
- [4] Acervo Museu da Pessoa
- [5] Facebook da Santa Casa de São Paulo
- [6] Santa Casa de São Paulo, Hospital Geriátrico D. Pedro II
- [7] Grupo Facebook Além do Portão
- [8] Grupo da Página Além do Portão
- [9] https://www.culturacentro.gov.pt/pt/museus/museu-virtual-de-arte-publica/castelo-branco/fundao/chafariz-comendador-gil-pinheiro/
- [10] CM Fundão, Programa Estratégico de Reabilitação Urbana
- [11] Crédito a Sandro Fortunato, Flickr
- [12] Crédito a Sandro Fortunato, Flickr
- [13] http://alcaide-aldeiadagardunha.blogspot.com/2012/03/o-alcaide-pela-pena-dos-seu-naturais.html
- [14] Crédito a Helena Alves, Flickr
- [15] O Pirralho, nº53, S. Paulo, 10 de Agosto de 1912
- [16] https://dicionarioderuas.prefeitura.sp.gov.br/
- [17] Joaquim Gil Pinheiro, no Facebook
- [18] Revista Flama, Maio 1937
- [19] Gazeta Popular, 12 de Maio de1937
- [20] Diário da Noite, 3 Novembro 1951
- [21] Correio Paulistano, 24 de Março de 1891
- [22] História da Ordem Militar de Cristo
- [23] https://www.facebook.com/groups/memoriaspaulistas/posts/1964864640226683
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